Ao todo, 17 produtores já cultivam uva no município.
O desafio de produzir uva em áreas quentes foi vencido e a primeira colheita de uva em Guarapari, Grande Vitória, já começou. Desde 2019, a cidade investe em um projeto pra diversificar a produção nas pequenas propriedades e 17 produtores rurais que aderiram à ideia começaram a colher as frutas nos últimos meses.
De acordo com engenheiro agrônomo e extensionista do o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) Cássio Vinícius de Souza, o projeto conhecimento sobre técnicas de vinicultura em climas mais quentes no município foi encontrado em Santa Teresa, região serrana do Espírito Santo, referência do cultivo da fruta no estado.
“A videira precisa de uma período de descanso, que a gente chama de repouso vegetativo para que ela possa acumular reservas e refletir isso na produção. Na região temperatura isso se dá por queda de temperatura; na região tropical temos outras estratégias que, no caso, seria supressão de irrigação, em que ela passa por um período de dormência e, posteriormente, é feito o preparo, o pré-poda e a poda para, em seguida, vir a produção”, disse.
Segundo o engenheiro, o estímulo à produção de uvas em áreas quentes contribui para o desenvolvimento da região, além da rentabilidade e qualidade de vida dos produtor locais.
Engenheiro agronômo e extensionista do Incaper Cássio Vinícius
“Os resultados têm sido fantásticos. O produtor está satisfeito, tem outras pessoas querendo ingressar na atividade. É uma atividade que permite, além da produção de uvas, uma verticalização do processos através da agroindústria, e a associação do agroturismo”, acrescentou o Cássio.
De acordo com o engenheiro, o projeto conta ainda com parceria da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e da Secretária de Agricultura do Espírito Santo (Seag).
“Temos a execução do projeto através da Seag e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Espírito Santo (Fapes), que são instituições governamentas que têm nos auxiliado financeiramente para indicar para os produtores a melhor época de poda e outro tipo de conhecimento”, disse.
Parreiras de uva em propriedade de Guarapari, ES
Dedicação
A produtora rural de Lucinéia Dalvi, que tem uma propriedade na localidade de Jabuti, na zona rural de Guarapari, produz uvas do tipo Carmen e Niagara Rosa há três anos. Ao todo, são 220 pés da fruta.
A produtora Lucinéia Dalvi planta uvas há três e começou a colher as primeiras frutas.
“Quando eu comecei com 50 pés, eu fui vendo que, quanto mais você cuidava e se dedicava, o resultado vinha. Talvez não na produção, porque a produção vem depois de três anos”, disse.
O pomar da Lucinéia é aberto para visitação e chama atenção pela beleza. Além dos inúmeros cachos de uvas que podem ser colhidos na hora, também são cultivadas rosas, que, de acordo com a produtora, servem como indicadores de doenças e pragas.
“Claro que tem o clima, o tempo, a chuva, vem as doenças, mas se você cuidar, ela dá retorno”, disse Lucinéia.
Rosas são indicadores de que a produção de uvas está livre de doenças e pragas.
Otimismo
Desde 2019, o produtor rural Emerson Rabelo Souza, que tem uma propriedade de um hectare na localidade de Cachoeirinha, em Guarapari, cultiva 400 pés de uva das variedades Isabel Precode, Carmem e Niagara Rosada.
O produtor, que antes plantava mandioca, banana e acerola, disse que, na época, viu uma oportunidade e quis aprender a técnica.
Produtor rural de Guarapari, ES, Emerson Rabelo Souza, tem uma plantão de 400 pés de uvas.
“A gente sabia que era um experimento, porque estamos a 7km da Praia do Morro, numa região quente. Eu aceitei o desafio e sabia que não era fácil”, disse.
Emerson disse ainda que, durante esses anos de produção, teve que saber lidar com alguns imprevistos.
“Começamos a ver o desenvolvimento, algumas plantas não desenvolveram bem. Tive problema com o esterco, a adubação que eu comprei não estava legal e acabou atrasando um ano. Foram acontecendo coisas que não estavam previstas”, disse.
Parreiras de uva de produtor rural de Guarapari, ES.
Neste ano, Emerson já está na segunda colheira da fruta, que são comercializadas por R$10 cada 500 gramas. A venda de uvas corresponde a 70% da renda da família.
“Sempre tem uma pessoa ligando, pedindo pra entregar, eu coloco numa motinha e vou entregar. O pessoal gosta muito para hotel para colocar para os hóspedos e, na praia, atendo o pessoal que faz caipifruta, caipivodka, essas coisas, e atendo Guarapari de forma geral”, disse.
Para 2024, o produtor quer abrir a propriedade para receber turistas que queiram colher as próprias uvas, fomentando o turismo de experiência. Segundo Emerson, plantar uva é um exercício de paciência, sendo necessário respeitar o tempo de preparação do solo, plantio, condução da uva, poda de formação param, enfim, colher os frutos.
“Você vê que, em meio a todas as dificuldades, está se tornando realidade. Ter uva em Guarapari, ter uva na sua propriedade. Se eu falasse isso para o meu pai, ele ia dizer ‘você tá ficando doido?’, você nunca vai fazer isso”, disse o produtor.
Comercialização de uvas corresponde a 70% da renda de produto rural de Guarapari, ES.
Fonte: G1